sexta-feira, 31 de julho de 2009
Não vale nada - Velhas Virgens
Hoje eu encontrei
Um velho retrato seu
Por onde andarão os olhos
Que uns dias foram meus
A rua sem você
Vazia é quase nada
Escura suja e triste
Recordação maltratada
Bêbado, rouco e louco
Eu danço entre os carros
Na marginal congestionada
Grito blasfemo
Paixão e ódio
Mágoa despeito
Uma mulher não vale nada
E os dias passam sedentos
Nessa imensa mesa de bar
Copos vazios
Que brindaram saúde
A quem não me quer mais
Não me quer mais
“Toma um fósforo
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo,
É a véspera do escarro
A mão que te afaga
É a mesma que te apedreja
Se alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra na boca que te beija!”
*Versos Íntimos
Augusto dos Anjos (1884/1914)
Esperanças perdidas
Não temos mais direção
Perdidos nas esquinas
Sem motivos nem razões
Sozinhos, com medo
Esperando por alguma solução
Então é outra noite sem sono
Outro dia insosso
rasgado, lento e demorado
Enquanto esperamos inertes
Em mais um dia do outono...
Tributo a Augusto dos Anjos
....A carcaça, entretanto, continua inteira, intacta, inabalada... Porem agora esta vazia desprovida de consistência para se movimentar, o espírito que outrora ali vivia tontamente alegre e iludido, sedento de esperanças, agora se desfaz e escorre pelos poros abandonando o navio em pleno naufrágio.
....Estendendo-se eternamente a madrugada avança engolindo os últimos suspiros deste ser decrépito. Entregado ao amargo gosto da desilusão, tentando ainda em vão respirar enquanto afunda em seu mar de solidão, tragando a seu insalubre sabor, na tola esperança de encontrar forças nestes músculos intumescidos, buscando ainda uma ilusão, esquecido...
-
Archives