sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O pistoleiro



....De negro o deserto atravessa, absorvendo o calor, a boca agora está tão seca quanto os olhos já estão há anos, mas no peito ainda bate seu ponto fraco, soluçante, ofegante e solitário. Não é um mocinho sem duvida, já desistiu desses ideais hipócritas há anos. O mundo não foi justo com ele, o emboscou ardilosamente, porque então deveria ele seguir essas regras defeituosas que mais causam dor e angustia do que resolvem problemas?
....Das noites frias já não tem mais medo, o pequeno pingente em sua corrente o lembra de alguém, alguém que já foi importante, alguém que talvez ainda seja. Distantes como os dois lados opostos de uma esfera, a única chance de se encontrarem é esmagando o que há entre eles e destruindo a razão.
....As dores que ele carrega hoje não estão nas cicatrizes que ele ganhou pela estrada, não esta nos olhos cheios de areia nem na garganta rachada pela sede. O vazio e a dor estão em imaginar tantas e tantas boas possibilidades e apenas uma dura e acida realidade. Tantos sonhos destroçados tantas vidas arrasadas, tantos e tantos pereceram perante suas balas, porem para defender sua honra e ainda poder um dia tocar a pele daquela que ama outros tantos mataria.
....Não é bonito, nem moralmente nem de feição, a barba por fazer, o olhar melancólico e carregado de raiva, e por trás de toda essa mascara apenas a carência do toque daquelas mãos brancas, do olhar sereno e brilhante, essa fragilidade é apenas o que resta de sonhos ainda não realizados. Já foi sensível talvez, trovou a ela tantas belas palavras que no dia em que não ouviu respostas sentiu sua alma murchar.
....Os dedos ávidos procuram de quando em quando as pistolas nos coldres, o movimento ameaçador é só então interrompido quando em um momento de insanidade ele sorri ao lembrar de quando essas armas davam lugar aquelas mão brancas. O sorriso rasgando o rosto só o torna mais louco e ameaçador, não é um sorriso de alegria, é um sorriso de dor, com o olhar vago e a respiração ofegante. Em sua retina fatigada ainda esta gravado aquele rosto, o pequeno sorriso, o jeito manhoso e gostoso, as risadas debochadas e os lábios doces e tentadores.
....Se não fossem tais ilusões já estaria a muito dormindo eternamente em algum lugar, provavelmente mais quente que este deserto, pagando pelos crimes não cometidos e pelos pecados não admitidos. O certo o errado, não se sabe qual é qual quando se esta perdido, quando se esta confuso e dopado!


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