terça-feira, 10 de março de 2009

Faces da Guerra - Parte I



....Estais vendo? Ignorado novamente fui. E o desprezo aterrador sufoca a alma dos que ainda sustentam a esperança, que outrora permeará os campos da vida. Oh, carrasco agourento de face vil e cruel, descei tua foice sobre meu pescoço açoitado pela mentira e pelos impropérios daqueles que não carregam a dignidade no peito, tendeis a misera piedade deste que tanto labutou na vida por um lugar em que pusesse as mais cruéis investidas dos demônios de lava da ignorância longe de sua mente.
....Por mais que tente convencer-me do contrario, em vão será… Empunharei minha espada e cavalgarei para a batalha de peito aberto, levando meu estandarte e nele estampado minha dor e meu sofrimento, tingidos com meu sangue, moldados por minha soberba secular. Ainda que me ignore e banalize meu linguajar desprovido de requinte e poesia, não hei de me humilhar. Sem perdão colocarei a minha cimitarra na cinta, vestirei o elmo ainda que enferrujado, selarei minha nobre montada, seguirei de cabeça em pé, deceparei os membros dos inimigos ignorando ainda suas histórias de vida e seus crimes talvez não cometidos. Matarei o rei, e assim o destronarei. Quem sabe então poderei ser reconhecido e notado perante vossa grandeza e magnitude.
....Ria… Pois saiba então que teu riso é em vão e tua blasfêmia em nome daquele que me protege por entre a fronte da guerra não deixará que minha espada perca o fio, nem me impedira de lutar até o ultimo instante pela dignidade que ainda resta em meu peito amargurado. Ademais teu desdém só servirá para impulsionar-me a matar todos aqueles que se coloquem entre mim e meu objetivo, todos que tentarem me convencer de que não haverá um amanham glorioso para a minha nação e todos que pensarem em me impedir de ver novamente os olhos daquela que um dia deixei, cheios de pranto e de saudades, abalados pelo temor da perda de seu amado.
....Por ela, derrubarei quantos exércitos forem necessários e abaterei a mais forte das cavalarias, mesmo desmontado e sem armadura, ainda que apenas munido com meu corpo, eu arrancarei os olhos daquele que ousou profanar o que ainda me sobrava de nobre e honrado. Não deixarei mais uma vez que o destino se abata sobre mim, tingindo minha tez boreal com o rubro sangue da insensatez.
....E a epopéia haverá de continuar. Por mais que eu tombe, outro terá de minha espada empunhar e sempre existirá alguém disposto a acabar com teus crimes e assim amputar tua pútrida mão que se estende por todos os cantos onde ainda há felicidade e amor.
....Não, não se abata perante a língua bifurcada de um ditador de palavras ásperas e venenosas. Deves erguer a cabeça e pousar nela a coroa de ouro talhada pelo mais hábil artífice. Deves governar teu povo com a dignidade de quem abdicou dos momentos de felicidade para estar ao lado do correto.
....Se simplesmente te infligirem dor através de palavras, saiba que ainda estarei aqui para novamente iniciar a batalha e então flanquear o inimigo com a cavalaria, infiltrar suas defesas com a jovem e obstinada infantaria com o exercito composto por mendigos e aldeões dispostos a entregar suas vidas por sua grande rainha e pela gloria do seu povo, sem jamais se renderem, para assim alcançarem outra vez a posição almejada por muitos.
....Teremos como único objetivo defender aquilo que existe de mais importante, ainda que nos custe à existência. Mesmo que com o braço amputado na febril batalha, com os dentes hei de arrancar a vida daquele que inflige dor aos inocentes, só uma coisa posso dizer ante uma batalha, de tal magnitude colossal, como essa que esta por vir... Homens arriem seus cavalos e afivelem seus estribos. Nós temos por honra, que defender aquilo que julgamos honesto e correto e vamos com nossos punhos massacrar quem ousa tocar no que nos é precioso.
....A vida haverá de recompensar por nossos feitos heróicos, e ainda que pereçamos no campo de batalha, caídos em uma valeta cheia de sangue com a garganta cortado ou o coração perfurado seremos lembrados, não pelo bardo que canta as trovas das batalhas, não por nossos inimigos que nos odiarão por seus novos ferimentos feitos por nossas espadas, mas por aquela que amamos e que nos amou e por quem sentira nossa falta quando deixarmos nossas famílias para trás.
....Não estamos sendo covardes em deixá-los desprovidos da proteção patriarcal, mas estamos sim fazendo com que nosso sangue derramado não seja em vão faremos com que o futuro seja diferente, e que ainda que ninguém leia as linhas que estas mãos traçaram sem duvida teremos orgulho de nossa obra
....Que nossos feitos não sejam enunciados em versos e estrofes, que sejam sim feitos em parágrafos e linhas, pois a poesia sempre distorcera os fatos. Não quero alegorias para engrandecer meus feitos, quero simplesmente a verdade, nua e crua, rasgada pelo bico de pena embebido em nanquim preto sobre o pergaminho com a letra garranchosa da mão inábil do já velho contador de historias...


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